Jornalismo em Quadrinhos
- cibertextoubc
- 26 de set. de 2014
- 3 min de leitura
Um gênero que chegou para ficar.
Um futuro incerto e a necessidade de recriar o jornalismo inovam as redações dia após dia. O jornalismo em quadrinhos é um gênero considerado novo, que tem notoriedade no âmbito no mercado.

Criada em meados da década de 1990, a arte sequencial foi marcada inicialmente pela publicação “Maus”, o primeiro livro reportagem em quadrinhos de ArtSpiegelman, vencedor do prêmio Pulitzer. Trata-se de uma autobiografia sobre como os pais do autor sobreviveram ao Holocausto.
No entanto, o responsável por nomear o novo gênero que surgia, foi um jornalista maltês chamado Joe Sacco com a publicação “Palestina” em 1996, que deu origem a expressão “Jornalismo em Quadrinhos” (JQ).
Joe Sacco é considerado por muitos quadrinistas, o ‘super-herói’ da reportagem em quadrinhos. Para Jens Harder, desenhista alemão, Sacco é o

principal HQ-repórter em atividade, “porque trabalha com muita seriedade e ambição e porque pega pontos centrais da vida social e política e põe sob uma lupa”.
Relatos históricos comprovados por Aristides Dutra, brasileiro pesquisador do tema, mostram que em 1986, Didier Lefèvre, fotógrafo francês, passou cerca de dois meses no Afeganistão em expedição com a organização Médicos Sem Fronteiras. As fotos deram origem à obra O fotógrafo, uma reportagem em quadrinhos publicada em três volumes no Brasil. Pouco tempo depois, em 1988, a editora e roteirista de quadrinhos Joyce Brabner publicou um livro-reportagem em HQ’s chamado Broughtto Light, o que prova que Joe Sacco não seja realmente o pioneiro do gênero apresentado.
Características do Gênero
Utilizando-se de recursos literários, além de combinar imagens e palavras, incorproa as características básicas do jornalismo, como o lead, o gancho jornalístico e a humanização dos fatos. A narrativa é breve, porém precisa, e como em qualquer meio jornalístico, a apuração deve ser feita de forma minuciosa.
Quando se faz jornalismo em quadrinhos, a preocupação com os detalhes é ainda maior. Quanto mais detalhada for à arte, mas proximidade com o real terá o fato relatado.
Esse tipo de reportagem requer mais tempo entre a pauta e a entrega da matéria. Os temas tratados, em geral são mais complexos. Um desenho cria menos impacto e rejeição, do que uma imagem que seria mal vista pelo leitor.
Jornalismo em HQs no Brasil
Prática nova e pouco vista em veículos tradicionais de comunicação como jornais e revistas, já existe quem aposte na técnica mesmo com a confusão do jornalismo em quadrinhos com charges e tirinhas de jornais.
A revista Fórum é um exemplo de como o jornalismo em quadrinhos pode dar certo. Ao longo de 2012 foram 11 edições em versão impressa. Uma série de reportagens em hq’s dos jornalistas Carlos Carlos e Alexandre de Maio.
“O jornalista pode ser muito fiel aos fatos desenhando, como Joe Sacco e vários outros caras fizeram. Eles produziram coberturas incríveis com desenho e sem interferir no conteúdo de veracidade. Até porque se a gente for analisar mais o assunto, todo texto tem o olhar de quem faz”, argumenta Alexandre, frente às criticas que o gênero sofre pela forte carga interpretativa dos textos.
Opinião
Ricardo Quartim é formado em Direito pela Universidade de Ribeirão Preto e colaborados da revista Mundo dos Super-Heróis, da Editora Europa desde 2008. Quando questionado sobre a possibilidade de utilizar os quadrinhos para aproximar leitores de hq’s para um segmento diferenciado como o jornalismo,

ele afirma: “ Sim,é totalmente possível. Os quadrinhos podem ser utilizados para todos os fins que você imaginar. Fins didáticos como, por exemplo, nas escolas ajudando o aluno a ter interesse não apenas pela leitura como fazer qualquer matéria tornar-se mais agradável através das HQs que podem ser criadas especialmente para esse fim.
Ricardo vê nos Quadrinhos uma contribuição para campanhas de caráter público. “Eles servem para campanhas de utilidade pública, no combate as drogas, na área de saúde educação etc. E aí é que entra o jornalismo que tem a função de informar o público leitor”.
O quadrinista destaca a relação com o Jornalismo. “Nesse caso quadrinhos e jornalismo podem andar juntos. Muitos jornais tem utilizado uma espécie de história em quadrinhos para ilustrar uma notícia. Até em colunas policiais”.
“Hoje em dia, pode-se notar que em jornais e revistas os textos jornalísticos são mais curtos, com frases curtas. E tem muitos boxes com informações condensadas. As pessoas não tem tido tempo para ler matérias muito grandes com textos muito extensos (o que a meu ver é uma pena). Por isso a existências do box. A utilização de quadrinhos pode ser uma opção diferenciada que atrai o leitor para ler a notícia de forma mais agradável e simples e depois interessar-se pelo resto da notícia”, conclui.
Texto por Carolina Cristina & Jocemi Oliveira. Imagens: Acervo pessoal de Ricardo Quartim e Acervo do Google.
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